domingo, 18 de outubro de 2009
DELÍRIO TOSCO DE UM TOSCO MARTÍRIO
poderia
ser
um suspiro, uma sombra, uma migalha
tua cara exposta na parede imaginária
dos sonhos que acertam minha noite
poderia
ser
qualquer coisa sem tanta importância
mais dois anos sob a mesma fragrância
do cheiro que embriaga esta vontade
poderia
ser
tudo mentira, tudo, tudo, tudo, tudo
pra acreditar que haveria outro sentido
de acreditar que nada disso foi verdade
poderia
ser
o fim do abismo da mágoa irreversível
num poema escrito, concreto, possível
sobre a página virada da maldade
poderia
ser
o detalhe, a miragem, a Messejana
o domingo, às nove horas, a semana
inteirinha, gota a gota, de saudade
TEÓFILO LEITE BEVILÁQUA
*
ALIÁS, UMA LÁGRIMA.
ó margem das margens, marginaliza-me,
esconde-me do rancor obsoleto de frases
escritas em pedra ôca
dai-me lágrimas, ó margens
lágrimas clandestinas e marginais
porque os homens, entre outras
coisas,
acusam a lágrima de furtar-lhes a natureza masculina,
esse escudo intransferível e baixo...
envergonham-se de expor o brilho
de um instante
com o argumento intolerável de que “homem não chora”
são os mesmos que condenam o
sexo e absorvem a violência doméstica
são os mesmos que investem contra prostitutas desnutridas
são os mesmos que ostentam a bandeira da moral e dos bons costumes
são os mesmos que fazem da guerra o cardápio de suas fomes
são os mesmos que negam a existência d’outras formas de amar
ó lágrimas!
rompam o cordão umbical do medo
afoguem a desgraça das convenções
e tracem em nossos rostos
a estrada que nos faça cruzar a
fronteira
de um mundo feliz.
TEÓFILO LEITE BEVILÁQUA
*
NÃO QUERO DORMIR
Não quero dormir
porque quero que o mundo adormeça por mim
e refaça suas forças dentro desse abismo
que é não ver quando as horas passam
Não quero dormir
porque tenho medo de que mais tarde
não haja nenhum motivo para acordar
e eu acorde, e respire, e não entenda nada
Não quero dormir
porque espero ouvir os gritos ardentes
das estrelas que cruzam os labirintos do céu
em busca de um novo amor
Não quero dormir
porque sou louco, e esta loucura se ampara
nas poucas vezes em que sinto piedade
de mim mesmo por ser exatamente assim
Não quero domir
porque sonhar é o inevitável da vida
e infelizmente é involuntário o filme que assisto
e aquela pessoa quase sempre está lá
Não quero dormir
porque a minha geração anda querendo
enxergar o mundo com os olhos de concreto
impermeáveis à lágrimas
Não quero dormir
porque quero sentir pesar sobre mim o peso
de todas as ilusões do dia
esse dia lento, que é mais um entre todos
Não quero dormir
porque estou me apaixonando e perigo
como sempre repetir os mesmos passos
de um caminho sem volta
Não quero dormir
e eu queria muito alguém pra conversar agora.
TEÓFILO LEITE BEVILÁQUA
*
sábado, 17 de outubro de 2009
32 MENTIRAS
seu sorriso aberto, belo e esquecido
flor amarela, viva, de olhos orientais
no corpo de um poema lido e relido
não passa de uma pétala-de-nunca-mais
seu sorriso inútil, frio e inconseqüente
me ilude ainda, mesmo depois de tanto
tempo, de horas que sem o menor encanto
viram em sua boca a mentira em cada dente
seu sorriso lento esconde um entardecer
e entre seus lábios, prazeres sutis
ontem, ainda acordado, sonhei e você
sussurrava ao vento: “o amor é infeliz”
que fatalidade! que oração sem amém!
o amor é um medo e é de tudo o avesso
correnteza baldia do sorriso de alguém
é trinta e um de julho de dois mil e cinco
é sonhar reouvir: “ainda te amo também!”
TEÓFILO LEITE BEVILÁQUA
*
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TEÓFILO LEITE BEVILÁQUA
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